Barrado no baile da Ilha Fiscal do tropicalismo, Tom Zé dá a volta por cima em grande estilo. Cult também no Brasil atual, ele documenta suas pioneirices reproduzindo no encarte de seu novo disco – o primeiro gravado para o mercado local desde sua repescagem por David Byrne – recortes de publicações diversas. Estão lá a matéria da revista Rolling Stone que o apelida em 1998 de O pai da invenção (em contraponto ao Mothers of Invention, banda de Frank Zappa), a do New York Times, de 1999, com o título "Escrevendo canções (às vezes para instrumentos de verdade)" e ainda manchetes nativas que atribuem-lhe a criação do sampler em 1978 e a condução dos eletrodomésticos da cozinha para o palco. No disco, atuam algumas dessas invenções os "instromzémentos" como o enceroscópio, a serroteria, o buzinório (na abertura de Jimi Renda-Se) e o hertZé, o tal sampler bolado por ele. Não contente com essas descobertas (que convivem com instrumentos convencionais e outros nem tanto como baixolão, tambor-boi, cravo), o compositor ainda lança o ritmo chamegá, disseminado na faixa homônima e em algumas outras com direito a coreografia desenhada no encarte. Seu balanço seccionado está mais para maxixe (ou afoxé) que o xamego difundido por Luis Gonzaga, de quem ele cita Xanduzinha entre palavrões e xingamentos à influencia estrangeira: "Aí chegou o gringo com o sequencer pra prender/ o músico brasileiro na camisa de força". Protesto ainda mais violento sai de O PIB da PIB, onde ele questiona a Prostituição Infantil Barata da "criança coitadinha do Nordeste" dentro da perversa economia nacional. Mesmo quando faz covers de clássicos tão batidos como Pisa na Fulô e principalmente Asa Branca, TZ dá lições. Reconstrói, mexe na estrutura das músicas que ganham outra face sem prejuízo das idéias originais. Passagem de Som, também calcada na cadencia do chamegá ("violão que tem o acento uma semi-colcheia depois do tempo forte da bateria") lembra as broncas de Tim Maia quanto ao retorno dos amplificadores em seus shows. Não falta sarcasmo ao baião A Chegada de Raul Seixas e Lampião no FMI. E o samba enredo Sonhar (Sonho da Criança-Futuro-Bandido da Favela na Noite de Natal), que fecha o disco, tem mais a ver com as contradições do que com a tradição do gênero. Como se não bastassem todas as revoluções por minuto do CD básico há ainda um segundo disquinho (grátis) só com as bases para que o ouvinte interaja com o projeto inicial. À rala dieta musical prescrita pelo mercadão diluidor, Tom Zé contrapõe um banquete de signos & inovações. Haja apetite cultural! Tárik de Souza
Faixas 1. Passagem de Som (Gilberto Assis e Tom Zé) 2. Peixe Viva (Tom Zé - Zé Miguel Wisnik) 3. Jimi Renda-se (Tom Zé - Valdez) Moeda falsa (Tom Zé)quinta-feira, 10 de abril de 2008
Tom Zé - (Jogos de Armar 2000)
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