João Bosco Ao Vivo
Obrigado, gente!
Texto de Francisco Bosco
Neste ano de 2006, João Bosco completa 60 anos. São mais de trinta anos de carreira, desde o início orientada por um imperativo estritamente artístico, passando ao largo de oportunismos, modismos e afins. A ética musical de João Bosco sempre teve uma única lei, parágrafo único: a invenção. Seu compromisso com a canção popular é marcado pela firmeza de uma obra que atravessa décadas preocupando-se fundamentalmente com o próprio fazer da canção: melodia, ritmo, harmonia, letra, canto - a grande tradição da canção popular brasileira.
A importância histórica da data foi comemorada de forma inédita: com a gravação do primeiro DVD de João Bosco. O repertório de João Bosco Ao Vivo - Obrigado, gente!, é composto por alguns de seus memoráveis clássicos (os sambas da década de 70, a incontornável parceria com Aldir Blanc, os sucessos românticos dos anos 80/90, como "Memória da Pele", "Desenho de Giz", "Papel Maché", etc.), todos em arranjos depurados através dos muitos anos de intimidade com as canções. O público de João Bosco sabe que sua mineirice é restrita ao âmbito particular, pois ele é, definitivamente, um artista de palco, um artista cuja obra cresce no palco. Assim, João devia esse DVD àqueles que o têm acompanhado ao longo de sua carreira, bem como aos novos admiradores, para que todos tenham registrada a excelência de sua performance. Com participações especiais de Djavan, Guinga, Hamilton de Hollanda e Yamandu Costa, o DVD (uma co-produção do selo MP,B, da gravadora Universal e do Canal Brasil) foi gravado nos dias 15 e 16 de fevereiro no novo teatro do Ibirapuera, em São Paulo. Simultaneamente ao DVD, o projeto também chega às lojas no formato CD, contendo 16 faixas.
A formação com naipe de metais (além do quinteto de base formado por baixo, bateria, guitarra, percussão e o violão de João Bosco) revela-se uma escolha acertada, tanto nos sambas sincopados, como "Incompatibilidade de Gênios", "Linha de Passe" e "Coisa Feita", quanto nas baladas, como "Jade", "Quando o Amor Acontece" e "Papel Maché". Perpassa quase todos os arranjos um equilíbrio entre a forma canção e uma inventiva elaboração instrumental cujos caminhos surpreendentes nunca põem em risco a simplicidade essencial da canção. Ouça-se, a este respeito, faixas como "O Ronco da Cuíca", "Odilê, Odilá", ou o pot-pourri "Quilombo / Tiro de Misericórdia". A propósito desse último, o arranjo, marcado por uma guitarra que procede por estocadas e a bateria explosiva de Kiko Freitas, revela com ainda maior expressividade a violência urbana brasileira em sua encruzilhada de raças, religiões e processos históricos.
São ainda notáveis as participações, especialíssimas, dos artistas convidados. Tocando publicamente com João Bosco pela primeira vez, Guinga comenta ao violão, elegantemente, a bela canção "Saída de Emergência". Yamandu Costa traz seu virtuosismo impetuoso para o samba-choro "Benzetacil", combinando humor, malícia e invenção num samba buliçoso daqueles em que se pode ler a alma brasileira. O também virtuose Hamilton de Hollanda empresta seu bandolim para o clássico "Linha de Passe", num jogo de cordas que mais parece um Fla-Flu dos áureos tempos: jogo aberto, placar elástico, artilheiros se consagrando. Finalmente, Djavan canta, com a mestria habitual, "Corsário", em encontro emocionante com João Bosco.
Pelo ineditismo dos arranjos, pela excelência das canções, pela performance dos músicos e do compositor, pela abrangência de seu universo musical, pelo retrato da cultura brasileira, este trabalho deve ser considerado uma obra de referência, para os amigos novos e antigos de seu cancioneiro, na trajetória musical de João Bosco. (FONTE)
1. Incompatibilidade de Gênios
2. Odilê, Odilá
3. O Ronco da Cuíca
4. Quilombo / Tiro de Misericórdia
5. Escadas da Penha
6. Desenho de Giz
7. Memória da Pele
8. Jade
9. Saída de Emergência
10. Prêt-à-Porter de Tafetá
11. Benzetacil
12. Linha de Passe
13. Corsário
14. O Bêbado e a Equilibrista
15. Quando o Amor Acontece
16. Papel Machê
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sábado, 5 de abril de 2008
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