Novos Baianos 1972 (Acabou Chorare)
Obra-prima dos Novos Baianos, Acabou Chorare nasceu do choque entre o grupo e João Gilberto. Depois de um primeiro disco semitropicalista, um tanto psicodélico e essencialmente roqueiro gravado em São Paulo (É Ferro na Boneca, de 1970), a trupe se mudou de mala e cuia para o Rio de Janeiro e por lá se instalou. Luiz Galvão, letrista dos Novos Baianos, conhecia o pai da bossa nova desde a adolescência em Juazeiro e retomou o contato assim que pisou na Cidade Maravilhosa. Por algum motivo inexplicável, João se identificou com a turma de hippies e logo começou a freqüentar o, digamos, “alojamento" onde eles moravam. De cara, apresentou ao grupo um samba que, mal sabiam eles, se tornaria a peça-chave da transformação sonora que viria em 1972.
“Brasil Pandeiro" foi composto nos anos 40 por Assis Valente especialmente para Carmen Miranda cantar, e fez quase tanto sucesso na época quanto faria trinta e poucos anos depois. A indicação do samba antigo vinha com um recado mais profundo: “Voltem-se para dentro de vocês mesmos", disse João Gilberto ao grupo. Sob essa brutal influência, Acabou Chorare foi composto e gravado. A faixa-título do disco, aliás, teve como fonte inspiradora uma história que João contara a Galvão pelo telefone e que depois ficaria famosa. Quando ainda era bem pequena, sua filha, Bebel, costumava falar um idioma híbrido, misturando o português de sua terra natal com o espanhol que aprendera durante o período em que morou no México com os pais. Única filha, ela estava sempre coberta de todos os cuidados possíveis. Num escorregão que levou certa vez, quando viu que toda a família vinha para cima dela ver se ela havia se machucado, a menina disparou: “Acabou chorare!". A canção ficou entre as mais tocadas nas rádios de todo o Brasil por mais de 30 semanas consecutivas. Mas o maior sucesso do disco foi mesmo “Preta Pretinha", música de Moraes Moreira feita sobre os versos que Galvão havia escrito para uma menina de Niterói que o havia deixado na mão.
De resto, qualquer mérito que não tenha sido dado à excelência de Acabou Chorare quando o disco foi lançado acabaria sendo devidamente reconsiderado com o correr do tempo. Aos 35 anos, faixas como “Mistério do Planeta", “A Menina Dança", “Tinindo Trincando" e “Besta É Tu" estão em seu melhor momento. E o fato de elas terem ajudado Acabou Chorare a conquistar pela primeira vez o topo de uma lista dos melhores discos brasileiros de todos os tempos só serve para confirmar isso.
Por Marcus Preto - Revista Rolling Stone Brasil
segunda-feira, 31 de março de 2008
Novos Baianos - (Acabou Chorare 1972)
domingo, 30 de março de 2008
Caetano Veloso - (Transa 1972)
Caetano Veloso: depoimento
Chamei os amigos para gravar em Londres. Os arranjos são de Jards Macalé, Tutti Moreno, Moacyr Albuquerque e Áureo de Sousa. Não saíram na ficha técnica e eu tive a maior briga com meu amigo que fez a capa. Como é que bota essa bobagem de dobra e desdobra, parece que vai fazer um abajur com a capa, e não bota a ficha técnica? Era importantíssimo. Era um trabalho orgânico, espontâneo, e meu primeiro disco de grupo, gravado quase como um show ao vivo. Foi Transa que me deu coragem de fazer os trabalhos com A Outra Banda da Terra. Tem a Nine out of Ten, a minha melhor música em inglês. É histórica. É a primeira vez que uma música brasileira toca alguns compassos de reggae, uma vinheta no começo e no fim. Muito antes de John Lennon, de Mick Jagger e até de Paul McCartner. Eu e o Péricles Cavalcanti descobrimos o reggae em Portobelo Road e me encantou logo. Bob Marley e The Wailers foram a melhor coisa dos anos 70. Gosto do disco todo. Como gravação, a melhor é Triste Bahia. Tem o Mora na Filosofia, que é um grande samba, uma grande letra e o Monsueto é um gênio. Me orgulho imensamente deste som que a gente tirou em grupo.
Jornal do Brasil – 16/05/91
Faixas:
01 You don’t know me
02 Nine out of ten
03 Triste Bahia
04 It's a long way
05 Mora na filosofia
06 Neolithic man
07 Nostalgia (That’s what rock’n’roll is all about)
Ficha técnica original
Produzido por Ralph Mace
Arranjos: Jards Macalé, Tutti Moreno, Moacyr Albuquerque e Áureo de Sousa
Criação do discobjeto: Álvaro Guimarães (Verbo)
Planejamento gráfico: Aldo Luiz
Fotos: Deca, Ricardo Lisboa e Juca Gonçalves
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domingo, 23 de março de 2008
Paulinho da Viola - (Acústico MTV 2007)
Paulinho da Viola é um daqueles artistas que marca na vida da gente. O MTV Acústico vem reafirmar a qualidade desse artista. Carioca, sambista de primeira grandeza, vale a pena conferir.
Na música "14 Anos", Paulinho fala que seu pai o aconselhou a ser "doutor", em vez de seguir a carreira de músico. Ainda bem que ele não deixou seu samba encabulado de lado. Exatos 50 anos depois, e aos 64 de idade, o compositor lança o DVD "Acústico MTV Paulinho da Viola", cujo repertório de 21 músicas desfila por sucessos antigos, quatro inéditas e duas canções não tão conhecidas. O trabalho resultou numa primorosa produção, digna de quem faz com talento o que tanto gosta, após todo esse tempo. E se tornou um dos maiores sambistas da história.
O álbum não é mais do mesmo, fato comum quando se trata do formato acústico, porque Paulinho esteve à frente da escolha do cancioneiro (a única intromissão da gravadora foi a inclusão de "Nervos de Aço", de Lupicínio Rodrigues) e trabalhou detalhadamente as melodias com os músicos e suas três cantoras de apoio, entre elas Cristina Buarque.
O cantor revelou três novas pérolas: "Vai Dizer Ao Vento", "Bela Manhã" e "Ainda Mais", essa última em parceria com Eduardo Gudin. Da Viola ainda musicou "Talismã", cuja letra é de autoria de Arnaldo Antunes e Marisa Monte. Deu mais dois tiros certeiros: reviveu "Amor É Assim" e "Foi Demais", lançadas originalmente no disco "Zumbido" (1979). Não deixou faltar "Timoneiro", "Coração Leviano", "Sinal Fechado", "Para Um Amor no Recife" e "Pecado Capital". É só mudou o arranjo de "Tudo Se Transformou", agora mais lenta.
O DVD traz mais sucessos do que a versão em CD -entre eles "Dança da Solidão", "Onde A Dor Não Ter Razão", "Argumento", "Foi Um Rio Que Passou Em Minha Vida" e "Só O Tempo", além de um making of precioso, que conta com depoimentos de Elton Medeiros, Arnaldo Antunes e dos músicos que acompanham o cantor há uma longa data, a exemplo de Didinho, que está com ele faz 37 anos. A MTV também teve o cuidado de contextualizar didaticamente com legendas e fotos quem foram os criadores do samba carioca, à medida em que Paulinho explicava sua história com o ritmo, no bairro de Botafogo, no Rio.
O "Acústico MTV Paulinho da Viola" é um deleite sobre a trajetória de um verdadeiro phD do samba. [FONTE]
01 - Timoneiro
02 - Coração Leviano
03 - Amor é Assim
04 - Para um Amor no Recife
05 - Foi Demais
06 - Coração Imprudente
07 - Pecado Capital
08 - Tudo se Transformou
09 - Sinal Fechado
10 - Ainda Mais
11 - Bela Manhã
12 - Talismã
13 - Vai Dizer ao Vento
14 - Nervos de Aço
15 - Eu Canto Samba
Para baixar e ouvir...
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sexta-feira, 21 de março de 2008
Paulo Costa ( Varal... 2000 )
"O Brasil não conhece o Brasil", versos da canção Querelas do Brasil de Maurício Tapajós e Aldir Blanc na voz de Elis Regina já sintetizava nos anos 70 o quanto ignorante era a indústria cultural em relação à diversidade da produção artística deste país, especialmente à música popular. Trinta anos após, constatamos que a irracionalidade dos mercados aumentou e o quanto mais íngreme se tornou o caminho daqueles que produzem MPB de qualidade nestas plagas.
Por outro lado, nos surpreendemos com a capacidade de sobrevivência em condições adversas e de renovação dessa música. A imensa variedade e complexidade do que chamamos MPB mantem-se e mutiplica-se nos sons produzidos por jovens artistas que empreendem a luta em todos os campos, desde a criação propriamente dita à batalha pelo registro e divulgação da obra - o que por sua vez exige igual empenho e criatividade.
O Brasil que legou Pinxiguinha, Luiz Gonzaga, Geraldo Pereira, Lamartine, Jobim, caetano, Chico, Gil, Djavan e tantos outros não esgotou os seus mananciais e hoje se projeta na voz de gente como Paulo Costa, esse baiano de Feira de Santana que lança, após dez anos de caminhada por bares, teatros e palcos de rua, o seu primeiro CD intitulado Varal... - título também do belo samba de roda que abre o disco. "Coincidências existem" diz Paulinho em seu Baião de Dois, embora saibamos nós, que conhecemos e admiramos seu trabalho, que ele representa, junto com outros novos e talentosos artistas (alternativos?), a resistência daquilo que foi forjado por aqueles ícones que que acabamos de mencionar.
Paulo Costa é quem compõe, canta, toca, arranja, produz e faz a direção musical do seu disco, concebendo, inclusive, o projeto gráfico que reproduz uma bela pintura de Lucely Guimarães. E é certamente a mão do artista em todas as fases da execução do projeto que dá ao trabalho uma forte unidade dentro do seu aparente ecletismo e reflete a sua maturidade.
Do ponto de vista musical o disco traz uma variedade rítmica com alguma predominância das referencias nordestinas, como o baião, o xote, o samba de roda (Baião de Dois, Varal, Arrepios, capoeira do Interior, Amar a Mais), mas há lugar também para canções dolentes ( Tempo) ou diálogos com a bossa nova e o samba carioca (Pra Quem Ama) e a música pop (Pagando Pra ver), tudo muito bem arranjado, de modo a desvelar faixa a faixa a delicadeza e o virtuosismo do intérprete.
Nas letras das canções - todas de sua autoria, sozinho ou dividindo com os parceiros Jurandir Rabelo, Lucely Guimarães, Bel da Bonita e Mimi Omino - percebe-se mais claramente o lado conceitual do disco. A senha é posta ja na primeira faixa, em que a metáfora do vento/redemoinho projetando os sonhos no varal surreal sugere a figura do menino, presente em quase todas as canções, que busca o futuro com sede de mundo e, sobretudo que ama, ora simplesmente caçando o alimento no seio de mãe e evitando o risco de entrar no mar de cabeça, ora com coragem de avião e arriscando perder o chão pra depois recomeçar como lava de vulcão. Por fim, esse garoto, eu lírico e alter ego do artista, se encontra fora de curso ou de "tus", que na verdade é onde deve estar todo poeta que se preze, pois evidentemente discorda de um mundo em que alguns tem nome e muitos tem fome.
Varal, é o primeiro registro do trabalho de Paulo Costa, mas seguramente não se parece com disco de estréia, tal a flagrante maturidade. Lamento apenas que, pela burrice e insensibilidade dos que controlam a indústria e o mercado fonográficos, seja dado a poucos ouvi-los.
Autor do texto: Nélio Rosa.
Nélio Rosa é poeta, escritor, compositor e formador de opinião.
Faixas:
01 - Varal (Paulo Costa/Lucely Guimarães)
02 - Capoeira do Interior (Paulo Costa)
03 - Tempo (Paulo Costa)
04 - Amar a Mais... (Paulo Costa)
05 - Pra Quem Ama (Paulo Costa)
06 - Baião de Dois (Paulo Costa/Lucely Guimarães)
07 - Arrepios (Paulo Costa / Jurandir Rabelo)
08 - Tenho o Vento as Canções e o Dia... (Paulo Costa/J. Rabelo/Bel da Bonita)
09 - Os Bem Aventurados (Paulo Costa / J. Rabelo/Bel da Bonita)
10 - Pagando Pra Ver (Paulo Costa/Mimi Omino)