"O Brasil não conhece o Brasil", versos da canção Querelas do Brasil de Maurício Tapajós e Aldir Blanc na voz de Elis Regina já sintetizava nos anos 70 o quanto ignorante era a indústria cultural em relação à diversidade da produção artística deste país, especialmente à música popular. Trinta anos após, constatamos que a irracionalidade dos mercados aumentou e o quanto mais íngreme se tornou o caminho daqueles que produzem MPB de qualidade nestas plagas. Por outro lado, nos surpreendemos com a capacidade de sobrevivência em condições adversas e de renovação dessa música. A imensa variedade e complexidade do que chamamos MPB mantem-se e mutiplica-se nos sons produzidos por jovens artistas que empreendem a luta em todos os campos, desde a criação propriamente dita à batalha pelo registro e divulgação da obra - o que por sua vez exige igual empenho e criatividade. O Brasil que legou Pinxiguinha, Luiz Gonzaga, Geraldo Pereira, Lamartine, Jobim, caetano, Chico, Gil, Djavan e tantos outros não esgotou os seus mananciais e hoje se projeta na voz de gente como Paulo Costa, esse baiano de Feira de Santana que lança, após dez anos de caminhada por bares, teatros e palcos de rua, o seu primeiro CD intitulado Varal... - título também do belo samba de roda que abre o disco. "Coincidências existem" diz Paulinho em seu Baião de Dois, embora saibamos nós, que conhecemos e admiramos seu trabalho, que ele representa, junto com outros novos e talentosos artistas (alternativos?), a resistência daquilo que foi forjado por aqueles ícones que que acabamos de mencionar. Paulo Costa é quem compõe, canta, toca, arranja, produz e faz a direção musical do seu disco, concebendo, inclusive, o projeto gráfico que reproduz uma bela pintura de Lucely Guimarães. E é certamente a mão do artista em todas as fases da execução do projeto que dá ao trabalho uma forte unidade dentro do seu aparente ecletismo e reflete a sua maturidade. Do ponto de vista musical o disco traz uma variedade rítmica com alguma predominância das referencias nordestinas, como o baião, o xote, o samba de roda (Baião de Dois, Varal, Arrepios, capoeira do Interior, Amar a Mais), mas há lugar também para canções dolentes ( Tempo) ou diálogos com a bossa nova e o samba carioca (Pra Quem Ama) e a música pop (Pagando Pra ver), tudo muito bem arranjado, de modo a desvelar faixa a faixa a delicadeza e o virtuosismo do intérprete. Nas letras das canções - todas de sua autoria, sozinho ou dividindo com os parceiros Jurandir Rabelo, Lucely Guimarães, Bel da Bonita e Mimi Omino - percebe-se mais claramente o lado conceitual do disco. A senha é posta ja na primeira faixa, em que a metáfora do vento/redemoinho projetando os sonhos no varal surreal sugere a figura do menino, presente em quase todas as canções, que busca o futuro com sede de mundo e, sobretudo que ama, ora simplesmente caçando o alimento no seio de mãe e evitando o risco de entrar no mar de cabeça, ora com coragem de avião e arriscando perder o chão pra depois recomeçar como lava de vulcão. Por fim, esse garoto, eu lírico e alter ego do artista, se encontra fora de curso ou de "tus", que na verdade é onde deve estar todo poeta que se preze, pois evidentemente discorda de um mundo em que alguns tem nome e muitos tem fome. Varal, é o primeiro registro do trabalho de Paulo Costa, mas seguramente não se parece com disco de estréia, tal a flagrante maturidade. Lamento apenas que, pela burrice e insensibilidade dos que controlam a indústria e o mercado fonográficos, seja dado a poucos ouvi-los. Autor do texto: Nélio Rosa. Nélio Rosa é poeta, escritor, compositor e formador de opinião. Faixas: 01 - Varal (Paulo Costa/Lucely Guimarães) 02 - Capoeira do Interior (Paulo Costa) 03 - Tempo (Paulo Costa) 04 - Amar a Mais... (Paulo Costa) 05 - Pra Quem Ama (Paulo Costa) 06 - Baião de Dois (Paulo Costa/Lucely Guimarães) 07 - Arrepios (Paulo Costa / Jurandir Rabelo) 08 - Tenho o Vento as Canções e o Dia... (Paulo Costa/J. Rabelo/Bel da Bonita) 09 - Os Bem Aventurados (Paulo Costa / J. Rabelo/Bel da Bonita) 10 - Pagando Pra Ver (Paulo Costa/Mimi Omino)
quarta-feira, 15 de julho de 2009
quinta-feira, 26 de junho de 2008
Palavra Cantada ( Canções Curiosas 1998 )
O selo Palavra Cantada foi criado em 1994 por Sandra Peres e Paulo Tatit com o objetivo de produzir uma música infantil moderna que fosse ao mesmo tempo lúdica e poética. Com seus dez CDs autorais, o selo conquistou um enorme público formado por pais e filhos, e passou a fazer parte do cotidiano de inúmeras escolas do Brasil, graças à qualidade com a qual as canções são produzidas, no âmbito das letras, melodias e arranjos. A Palavra Cantada tem o orgulho de ajudar com seu trabalho musical a formação da criança do nosso tempo. O Selo Palavra Cantada existe desde 1994, quando os músicos Sandra Peres e Paulo Tatit propuseram-se a criar canções infantis dentro de um novo padrão de qualidade que julgavam merecer as crianças de nossos dias. Dentro dessa perspectiva, procuraram elevar a música infantil a um patamar superior construindo suas melodias, letras e arranjos com extremo cuidado e minuciosidade. Para surpresa da dupla, o resultado bastante poético e lúdico acabou por agradar igualmente não só as crianças como os adultos, fossem estes pais ou educadores. Nos shows de grande porte que nos dias de hoje os músicos realizam toda a família se diverte e se emociona. E escolas públicas e particulares de muitos Estados têm adotado os produtos do catálogo da Palavra Cantada em suas atividades cotidianas. O selo, neste período de doze anos, já ultrapassou a marca de quinhentas mil cópias vendidas, e, ao sucesso de público, soma-se o da crítica que vem destacando em inúmeras matérias elogiosas o trabalho diferenciado da Palavra Cantada na esfera da música infantil. Dos dez lançamentos produzidos até o presente momento, cinco receberam os maiores prêmios dedicados a esse gênero musical, o que os incentivam ainda mais a cumprir a difícil missão de unir sucesso com qualidade.
sexta-feira, 13 de junho de 2008
Clube do Balanço (Swing & Samba Rock 2001)
O Clube do Balanço começou suas domingueiras em 1999, no grazie a dio, grande empório musical da vila madalena, trazendo o samba rock dos guetos paulistanos da periferia para um tradicional bairro boêmio da capital. aliás, a vila madalena tem um papel fundamental nessa história. foi no blen blen, outra tradicional casa noturna do bairro, que a banda lançou seu primeiro cd, swing e samba rock, em 2001. a enorme fila na porta prenunciava o sucesso da noite. segundo marco mattoli, cantor, guitarrista e líder do clube, o cd swing e samba rock, mais que um disco da banda, é uma "reapresentação" do samba-rock para uma nova comunidade. intencionalmente datado, o álbum traz o melhor da produção suingueira nacional lá pros idos de 60/70. Uma grande variedade de compositores que fizeram a história do gênero (Jorge Ben, Bebeto, Marku Ribas, Luís Vagner e Bedeu) são recuperados no álbum, com arranjos enfatizando os metais, dando um tom gafieirístico ao conjunto. destaque para as excelentes paz e arroz, só vejo a criola, saudade de jackson do pandeiro e falso amor. apenas duas faixas do disco são assinadas por mattoli: aeroporto e trilha guitarreira, esta última dividida com luís vagner. Em 2004, a banda, que além de Marco Mattoli, é formada também por Edu Peixe, Gringo, Augustinho Bocão, Fred Prince, Marcelo Maita, Tiquinho, Reginaldo 16 e Tereza Gama, se sentiu madura o suficiente para lançar um novo trabalho, com mais composições próprias e menos participações especiais. 1 Palladiun(Orlandivo - Ed Lincoln) 2 Paz e arroz(Jorge Ben) 3 Só vejo a crioula(Bebeto) 4 Mané João(Erasmo Carlos - Roberto Carlos) 5 Aeroporto(Marco Mattoli) 6 Zamba Ben(Marku Ribas) 7 Saudade de Jackson do Pandeiro(Luis Vagner - Bedeu) 8 Coqueiro verde(Erasmo Carlos - Roberto Carlos) 9 Falso amor(Bedeu) 10 Krioula(Helio Matheus) 11 Trilha guitarreira(Luis Vagner - Marco Mattoli) 12 Segura a nega(Luis Vagner - Bebeto) 13 Tequila (Chuck Rio)
sexta-feira, 30 de maio de 2008
quinta-feira, 22 de maio de 2008
Toni Tornado ( BR3 1971 )
O Toni veio do Antônio, o Tornado foi adotado pois "dançava feito um furacão". E foi dançando e berrando como nunca que Antônio Viana Gomes, o Toni Tornado, ganhou o V Festival Internacional da Canção, em 1970. Na ocasião, subiu ao palco exibindo seu volumoso black power, sem camisa e com um sol desenhado no peito. Interpretou BR-3 e venceu a parada, que tinha gente talentosa como Gilberto Gil, Jair Rodrigues e Caetano Veloso. Tornado tem uma história e tanto, que começou em sua cidade natal, Mirante do Paranapanema, interior de São Paulo, de onde saiu em 1942, quando tinha 11 anos. De carona, o garoto foi parar no Rio de Janeiro, onde passou a morar na rua, vendendo amendoin e sendo engraxate. Isso até se alistar no Exército, onde chegou a servir na guerra pelo Canal de Suez, no Oriente Médio. Nos anos 60 viveu como clandestino nos Estados Unidos, onde no Harlem, em Nova York, chegou a trabalhar com o tráfico de drogas, anotando os pedidos dos viciados. Porém, seus dias na terra do Tio Sam estavam contados e nem seu Cadillac, nem tampouco sua ginga black foram capazes de evitar sua deportação. Logo na volta ao Brasil em 1969, com roupas coloridas e cabelo pintado, Tornado foi prontamente levado ao Departamento de Ordem Política e Social (DOPS). Em 1972 ele voltaria a ter problemas, quando durante um show de Elis Regina, subiu ao palco e cantou fazendo o símbolo dos Panteras Negras (o punho erguido). Toni foi preso ao descer do palco e levado novamente ao Dops, onde segundo o mesmo, foi obrigado a cantar Br3 para cada um dos policiais. No mesmo ano, o cantor foi levado para a TV Tupi e a partir daí seguiu sua carreira de ator, participando de vários filmes, minisséries e novelas. O Toni ator interpretou personagens famosos como Rodesio, capanga da viúva Porcina em Roque Santeiro, e Gregório Fortunato, chefe da guarda de Getúlio Vargas na minissérie Agosto, entre outros. Até hoje, o velho Toni continua trabalhando na TV. Com os 77 anos se aproximando, no dia 26 de maio, o cantor e ator continua o figura de sempre, com seu seu jeitão peculiar de ser, a ginga black e é claro, sempre usando o velho "Dom" (uma espécie de "Meu chapa") para finalizar suas frases. Músicas: 1. Juízo final 2. Não lhe quero mais 3. Dei a partida 4. Uma canção para Arla 5. Breve loteria 6. Eu disse amém 7. BR-3 8. Uma vida 9. Papai, não foi esse o mundo que você falou 10. Me libertei 11. O repórter informou 12. O jornaleiro
terça-feira, 20 de maio de 2008
Cartola ( discografia completa )
Chamado "mestre e divino do morro" por musicólogos, Angenor de Oliveira é um dos maiores nomes da Música Popular Brasileira. De talento intuitivo e refinado, compôs músicas como As Rosas não Falam, cujos versos revelam uma refinada poesia: "Devias vir/para ver os meus olhos tristonhos/e quem sabe sonhavas meus sonhos/por fim". Negro, nascido no bairro do Catete, no Rio de Janeiro, aos 11 anos foi morar no Buraco Quente, um bairro no Morro da Mangueira. Ganhou o apelido Cartola quando trabalhava em obras, usando um chápeu-coco para não sujar os cabelos de cimento. Aprendeu a tocar cavaquinho desde cedo com o pai. Ainda jovem, costumava ir a missas na Igreja da Glória para ouvir quartetos de coral de Bach e Händel, o que talvez seja um indício de seu refinamento musical, uma vez que não tinha qualquer estudo formal de música. Em 1928, criou, com Carlos Chagas, o Bloco dos Arengueiros, que se transformou na Escola de Samba Estação Primeira da Mangueira, para quem compôs seu primeiro samba-enredo (Chega de Demanda) e escolheu suas cores verde e rosa. Na década de 1930, vendeu os direitos de gravação de vários sambas, como Divina Dama e Qual Foi o Mal que Eu te Fiz?, lançados por vários intérpretes. Desapareceu nos anos de 1940, só retornando ao meio artístico em 1959, quando foi encontrado, pelo jornalista Sérgio Porto, na rua trabalhando como lavador e guardador de carros no bairro de Ipanema. Mais tarde, investindo na batalha para levar o samba do morro às ruas da cidade, abriu, junto com Eugênio Agostine e sua mulher Dona Zica, o bar Zicartola, que se tornou no mais badalado ponto de encontro de sambistas cariocas. Cartola convidava gente como Elizeth Cardoso, Cyro Medeiros e o trio Pixinguinha, Donga & João da Baiana para cantar no bar a música de "pouco valor" (dialeto sambeiro de então). Sua aceitação no mercado fonográfico só ocorreu nos anos de 1960 e 1970, quando conheceu um pouco de popularidade e gravou músicas como O Sol Nascerá, Autonomia, O Mundo É um Moinho, Tive Sim, Divina Dama, Quem me Vê Sorrir. Gravou seu primeiro LP somente em 1974, aos 66 anos, e, mesmo vivendo em grandes dificuldades financeiras, compôs e cantou até morrer, aos 72 anos.
DISCOGRAFIA COMPLETA (clik na capa para fazer o download)
Fala Mangueira (1968) | Cartola (1974) | Cartola (1976) |
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Verde Que Te Quero Rosa (1977) | Cartola 70 Anos (1978) | Ao Vivo (1982) |
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Documento Inédito (1982) | Entre Amigos |
Jorge Ben & Gilberto Gil ( Gil e Jorge Ogum Xangô 1975 )
sábado, 17 de maio de 2008
Lulu Santos - ( Long Play 2007 )
Lulu Santos está de volta com Long Play, mais um trabalho excepcional de sua carreira, com Milton Guedes no sax, Hiroshi Mizutani nos teclados e programações, Dunga no baixo, Xokolate na bateria e Ênio Taquari na percussão. O sucessor de Letra & Música (2005), que superou a marca de 50 mil cópias vendidas, traz 14 faixas com o melhor de seu estilo, algumas já apresentadas pelo cantor e compositor carioca em sua última turnê. Destaques para "Contatos", "Dopamina", "Seu Aniversário", "Olhos de Jabuticaba" e "Domingo Maldito". Vale a pena conferir! 1. Olhos de Jabuticaba 2. Domingo Maldito 3. Seu Aniversário 4. Deixa Isso pra Lá 5. Contatos 6. Ninguém Merece 7. Boa Vida 8. Dopamina 9. Propriedade Particular 10. Se Não Fosse o Funk 11. Olhos de Jabuticaba- Remix 12. Seu Aniversário - Remix 13. Seu Aniversário - Karaokê